Olá pessoal, hoje trouxemos
a nossa orientadora Doutora Luciana Maria Silva Lopes, 44 anos, formada em
Biologia pela Puc – MG, mestra em Ciências e técnicas nucleares no Departamento
de engenharia nuclear da UFMG, doutora em Biologia Celular pelo departamento de
morfologia no instituto de ciências biológicas da UFMG.
Fizemos algumas
perguntinhas:
1- Porque você resolveu se
tornar empreendedora
Desde a minha graduação eu
já gostava da biotecnologia, e sabia que biotecnologia era negócio, mas eu não
sabia naquele época como ser empreendedora. Então como estamos vivendo um
momento que o cenário tem sido favorável à biotecnologia, e eu trabalho com a
ciências da vida, vi que esse sonho poderia se tornar realidade e uma
oportunidade de transformar as nossas idéias em produtos para a sociedade.
2- Quais projetos existem de
empreendedorismo coordenado por você?
Hoje em dia existem duas
startups que nasceram no Serviço de Biologia Celular. A primeira é a OncoTag,
nascida em 2013, dentro do Programa de Incentivo a Inovação uma parceria do Sebrae
com a Funed. A OncoTag já foi escolhida para participar de 3 programas de
aceleração de startups sendo ganhadora do Inovativa Brasil ciclo 2016.1, foi o
2 lugar do prêmio Fleury de Inovação e convidada para participar do 6 circuito
Einstein de startups. Foi também pré-selecionada no Programa LIBBS Portas
Abertas e 100open startups/Roche e convidada para participar do SharkTank
Brasil na FINIT 2017, que foi um momento muito importante para a OncoTag devido
ao reconhecimento obtido.
A outra startup do
laboratório nasceu este ano, e já acumula premiações sendo 3 lugar do programa
Biomakerbattle, 3 lugar do miniempreenda em ação na Finit 20177 e foi
selecionada para participar da 4 rodada de pré-aceleração de startups Biostartuplab
da Biominas e classificada para se apresentar no palco do DEMODAY Biostartublab/Sebrae-MG
no dia 07/12
3- Você acha que em algum
momento algum projeto vai impactar outro?
Não acredito, principalmente
por que estou aqui para favorecer as iniciativas que surgirem no laboratório,
pois o câncer é um problema muito sério que acomete a vida de milhares de
pessoas no Brasil e no Mundo. Hoje em dia sabemos que o câncer é uma doença
muito complexa e vejo que quanto mais iniciativas de pesquisas existirem melhor
para os médicos conseguirem auxiliar no manejo clinico das pacientes, pois
nenhuma técnica sozinha é capaz de cobrir todas as informações sobre o câncer
que possam melhorar a sobrevida dos pacientes oncológicos.
4- Sendo a biologia uma área
tão ampla, porque você optou pela biologia celular? E quando você decidiu por
isso?
Existe um ditado que diz que
a nossa decisão profissional as vezes é passada pelos bons professores que
passaram pela nossa vida, e as vezes eu começo
a acreditar que isso é verdade, porque o primeiro contato que eu tive
com célula foi com um professor do ensino médio. Ele chegava na escola e
desenhava a célula passo a passo pra gente, eu lembro que ele chegou com um
compasso grande, começou desenhando a membrana ai contava pra gente as funções,
em outra aula o núcleo, o citoplasma, as organelas. Recentemente eu ainda tinha
cópia dessa célula, porque ele desenhava pra gente no quadro com o giz e a
gente tinha que reproduzir no caderno, no final de uma semana com as aulas de
biologia a gente tinha uma célula desenhada no caderno. Eu bati o olho naquilo
e fiquei impressionada achei sensacional a estrutura, fiquei encantada com a
célula esse foi o meu primeiro contato com ela. Depois eu entrei para a
faculdade e a minha primeira aula de biologia foi de citologia, parece até que
estava no destino e eu fiquei mais encantada. Ai fui entender do ponto de vista
mais profundo da célula, suas atividades e implicações, e ao longo da minha
formação acadêmica eu estava sempre pensando na célula, era a unidade que mais
me encantava o tempo inteiro e eu comecei a pensar projetos que fossem de
células. Um dia passando em frente a Funed minha amiga de faculdade me disse
‘’Lu, vamos deixar o nosso currículo na Funed, lá tem vários laboratórios’’ e
eu não conhecia ainda, não sabia do potencial da Funed, ou até mesmo que tinha
laboratório de pesquisa, e ela sabia. Então a gente veio, cadastrou o currículo
e para a minha surpresa o Dr. Hector Montes de Oca me convidou para fazer uma
entrevista, ele foi o fundador deste laboratório que eu coordeno hoje em dia,
ele era um médico argentino convidado pelo professor Carlos Ribeiro Diniz pra
montar o laboratório de cultivo celular, que era de cultivo de células in vitro, que na época de 1995 era uma
tecnologia super nova, eu lembro que
fiquei encantada, eu vim parar em um laboratório de cultivo celular sendo que
tudo que eu gostava era célula. Eu fui conversar com o Dr. Hector, e na
conversa ele me perguntou que tipo de livro/autor eu estudava eu falei que era
do De Robertis então ele me disse que o De Robertis era amigo dele e ele tinha
uma foto do livro que era do núcleo interfásico, na época eu falei que conhecia,
mas eu não sabia direito o que era já que estava começando os estudos, depois
eu fui procurar a foto no livro, que ele tinha tirado dessa célula em
interfase, muito legal essa historia e desde quando eu entrei no laboratório eu
fui conduzindo minha carreira cientifica em torno da célula, porque foi o
universo que mais me chamou atenção desde o ensino médio, hoje em dia eu posso
dizer que sou biologista celular por vocação, eu não caí ao acaso, eu procurei
e me especializei naquilo que eu queria.
5- Como é a experiência de
ser uma orientadora?
Eu gosto muito de orientar
pessoas, tem muitos desafios, não é fácil, pois lidamos com expectativas, tanto
as nossas como das pessoas que orientamos. Mas é extremamente prazeroso, pois
você passa seu conhecimento para outras pessoas. Eu tive a oportunidade de me
formar, de me especializar, e eu gosto da ideia de ser multiplicadora, ver
pessoas seguindo a mesma área. Essa é uma carreira muito promissora, a área da
biotecnologia tem um potencial enorme. O melhor de tudo até hoje tem sido agregar
pessoas a esse trabalho.
6- Qual foi o seu primeiro
contato com a pesquisa e como você decidiu continuar?
O meu primeiro contato com a
pesquisa foi a que eu contei da célula com o pesquisador Dr. Hector Montes de
Oca, mas ele veio a falecer durante meu período de estagio cientifico, e após o
ocorrido passei a ser orientada pela Doutora Consuelo Latorre, que é uma das
pesquisadoras da diretoria de pesquisa,
e que eu tenho o prazer de dizer que é minha mãe científica, pois foi ela
quem me orientou, incentivou e apoiou na pesquisa. Sendo que preciso recorro a
ela para me orientar na minha carreira até hoje.
7- Como foram suas
experiências com seus primeiros orientadores?
Meu primeiro orientador foi
o Dr. Hector, que era um pesquisador muito experiente que me ensinou muito
sobre o cultivo de células animais in
vitro. Depois tive a Dra. Consuelo como orientadora, que como eu falei é
minha mãe na pesquisa. No meu mestrado tive também o Doutor Tarcisio Campos na
ciência de técnicas nucleares, ele me ensinou muito sobre a radiologia aplicada
a tumores. Também tive o Doutor Paulo
Pimenta que me ajudou no doutorado, pesquisador do Centro de Pesquisas Rene
Rachou/FioCruz e eu sou grata por ele ter aberto o laboratório pra mim e me
introduzido as mais variadas técnicas de microscopia.
8- Quais as principais
linhas de pesquisa em que você trabalhou?
No inicio da minha carreira
eu trabalhava com toxinas de escorpião, cobra e aranhas, e elas tem
características farmacológicas muito importantes. Hoje em dia eu trabalho com uma
plataforma de descobertas de novas drogas antitumorais, tenho parceria com
vários químicos em Minas que sintetizam moléculas e nos enviam para testarmos
em cultivo de células para descobrir potenciais candidatos a quimioterápicos,
tenho duas patentes nessa área. A outra área é oncologia experimental, onde
trabalho com amostras de pacientes e fazemos análises moleculares e celulares
dos tumores humanos na busca por marcadores diagnósticos, prognósticos e
preditivos, desse estudos saíram três patentes até o momento
E eu estou com uma nova
linha de pesquisa junto com a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri, que é o estudo das condições de saúde da população de Diamantina, onde
irei avaliar elementos sanguíneos que possam ser relacionados às doenças.
9- Desde que você deixou a
bancada o que você mais sente falta?
Da bancada –risos- da experimentação, de planejar os
experimentos. Mas hoje já entendi que meu papel como gestora em ciência é
desenvolver projetos, captar recursos e
conduzir pessoas nos seus experimentos.
10- Como surgiu a ideia de
criar o blog Por Dentro do Mundo das Células?
A ideia do blog nasceu da
minha vontade de popularizar as ações do Serviço de Biologia Celular, como
servidora publica que desenvolve pesquisas eu sentia falta de um canal para dar
transparência ao que é feito no laboratório e falar de ciência sem sair da
minha área é claro, ou seja, abordar tudo permeia o universo das células. No
blog falamos também sobre os grandes cientistas da humanidade, as doenças,
novidades cientificas e etc. O blog conta com a ajuda das minhas Bic Juniors,
que estão me entrevistando agora, que cuidam dele com muito cuidado e comprometimento e são
extremamente criativas e reesposáveis. Ah, temos também várias entrevistas com os
funcionários do laboratório e da Funed, com meus alunos de iniciação
cientifica, mestrado e doutorado e com os parceiros também. O interessante é
que blog gerou 90 postagens e mais de 12 mil visualizações desde sua criação em
outubro de 2016.
Espero que ao ter que substitui-las
encontre alunas tão dedicadas como Ana e Lara.
E para finalizar gostaríamos
de saber como é para você ser uma mulher negra? Já sofreu algum preconceito?
Boa pergunta, principalmente
por que nesse ultimo mês muita coisa aconteceu em relação à questão racial.
Vamos lá. Ser negro em um país racista é muito difícil, por muitas vezes tive a
sensação de não pertencimento no mundo, alguns colegas faziam brincadeiras
horríveis comigo, morria de medo de entrar em determinados lugares por não
saber se seria bem recebida ou bem tratada. Sofri muito preconceito travestido
de ato falho, do tipo “não era para ter falado isso ou agido dessa forma”...
Mas essas coisas me fizeram mais forte por fora embora me destruíssem a alma.
Mas se encontrei pedras no
meu caminho, eu também encontrei flores... Graças a Deus encontrei na minha
caminhada profissional e pessoal pessoas que não eram racistas e me conduziram, me
apoiaram e foram parceiros sem pensar na minha cor. Em contrapartida eu me
dediquei, dei de tudo para corresponder às expectativas, não me dei o direito
de falhar, tinha a obrigação de dar certo. Também dei aula pro ensino
fundamental por 10 anos em escola publica e muitos alunos vinham para dizer que
eu era inspiração para eles, as meninas não gostavam nem quando eu ia um pouco
mais mal arrumada....rsrs Diziam: “professora
você não pode descer do salto nunca”....kkkk
Recentemente um funcionário da
Funed me disse de maneira espontânea que eu representava a mãe dele, que ele
ficava muito feliz com minhas conquistas que ele via publicado nos canais
internos de comunicação, pois embora ele fosse branco sua mãe era negra... Emocionei-me,
que legal ouvir isso! Representatividade importa.
Moramos num país super miscigenado,
poucas pessoas nesse país não tem o sangue africano correndo em suas veias. Então por que tanto preconceito
contra aqueles que manifestam seu sangue negro na pele? Não entendo...
Para finalizar, espero que
um dia tenhamos um mundo mais justo, igualitário, que todos tenhamos as mesmas
oportunidades e sermos mais tolerantes, respeitando as raças, os gêneros e a
orientação sexual das pessoas... Essas diferenças não torna ninguém menos
humano.
Então essa foi à entrevista
da Orientadora do Blog Luciana Maria Silva, espero que tenham gostado de
conhecer um pouco mais sobre seu trabalho e sua história cientifica. Se não
fosse por ela não teríamos a grande oportunidade de escrever este blog.
Muito obrigada meninas por tornarem esse Blog um espaço de ciência mas também um espaço para divulgarmos os pesquisadores do laboratório e outros pesquisadores da Funed ou de outras instituições parceiras. Vocês brilharam!!!
ResponderExcluirParabéns, continue sempre com essa energia e foco. Precisamos muito de pessoas iluminadas como você e toda sua equipe. Excelente trabalho.
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirGostei muito dos conteúdos apresentados neste blog. Parabéns.