Olá pessoal,
hoje trouxemos mais uma entrevistada. Christiane Contigli, 51 anos, formada em Ciências
Biológicas com Bacharelado em Genética pela UFMG. Fez Especialização em
Pesquisa em Microbiologia médica e depois Mestrado e Doutorado em Bioquímica e Imunologia,
sempre na UFMG, mas parte dos estudos de Doutorado foram desenvolvidos também
na Università degli Studi di Firenze (Itália). Complementou sua formação
acadêmica com o Pós-doutorado em Imunogenética, desenvolvido na UFTM (Uberaba)
e na Universitè d’Aix-Marseille III (França).
Fizemos
algumas perguntinhas:
1- Qual a sua área de atuação?
Minhas áreas
de atuação, hoje em dia, são Imunologia Aplicada, Biologia Celular, Biotecnologia
e Ciência dos Alimentos.
2- Porque você escolheu essas áreas?
Quando
comecei a fazer o curso de graduação em Ciências Biológicas, meu primeiro
interesse foi pela Genética, mas aí descobri a Imunologia e a Biologia
Molecular e também me apaixonei por essas áreas. Da Graduação ao Doutorado,
fiquei pulando da Imunologia para a Genética Molecular e de volta para a
Imunologia, até que no Pós-doutorado trabalhei com Imunogenética, unindo todos
esses interesses científicos.
Quando entrei
efetivamente para o mercado de trabalho, as oportunidades que surgiram me
fizeram migrar da ciência básica para a pesquisa aplicada e o desenvolvimento
tecnológico e, paralelamente, para o ensino acadêmico. Então, ao longo das
várias experiências profissionais que tive, fui descobrindo meu interesse também
pela Biotecnologia e mais recentemente, pela Ciência de Alimentos, áreas nas
quais pude aplicar os conhecimentos técnico-científicos previamente adquiridos para
projetos que vão da Saúde Pública à Segurança de Alimentos. Agora estou de
volta à Biologia Celular e Imunologia, sem deixar de lado a Biotecnologia.
3- Quais experiências você teve nessa
área?
Durante minha
graduação, fiz Iniciação Científica em Imunologia. Depois migrei para a
Genética de microrganismos, sendo que meu TCC de Bacharelado foi sobre clonagem
de genes de resistência bacteriana ao mercúrio usando um bacteriófago (vírus de
bactérias) como vetor.
Quando me
formei, recebi uma bolsa de Especialização em Pesquisa na área de Microbiologia
médica e participei de estudos sobre o Helicobacter
pylori (bactéria que pode provocar gastrite, úlcera e câncer no estômago).
Durante o
Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado, voltei para a Imunologia Celular e
Molecular e para a Biologia Molecular. Surgiu então a oportunidade de trabalhar
na área de produção, controle da qualidade e desenvolvimento de produtos, em
empresas de biotecnologia que fabricavam testes imunológicos e bioquímicos para
diagnóstico in vitro.
Depois disso,
me tornei pesquisadora da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC,
onde busquei utilizar meus conhecimentos técnico-científicos e minha
experiência na indústria na implantação de uma nova linha de pesquisa na área
de Biotecnologia, voltada para o desenvolvimento e a aplicação de métodos
imunológicos rápidos na Segurança de Alimentos, Saúde Pública e Meio Ambiente.
Anos depois,
surgiu a proposta de me transferir para o SENAI, que assumiu as atividades
tecnológicas que eram desenvolvidas pelo CETEC, e lá atuei, até recentemente,
como Diretora do Instituto SENAI de Tecnologia em Alimentos & Bebidas. Nessa
função, o lado de pesquisadora que ficou em segundo plano, mas pude desenvolver
meu lado de gestora e empreendedora, pois liderei a equipe na reestruturação do
antigo setor onde trabalhava para transformá-lo em um instituto de tecnologia.
Além disso, desde
o Doutorado, tive várias oportunidades de atuar como Professora em cursos de
Graduação e de Pós-graduação e como Orientadora de estudantes da Iniciação
Científica ao Mestrado, complementando minha formação e experiência
profissional e contribuindo para a formação de novos profissionais nas várias
áreas em que atuei.
Recentemente
de volta ao serviço público, me transferi para a FUNED, onde hoje faço parte da
equipe do Serviço de Biologia Celular da Diretoria de P&D. Aqui, estou
retomando minha atuação como Pesquisadora e pretendo contribuir com minha
experiência para o desenvolvimento de aplicações biotecnológicas que beneficiem
o diagnóstico e o tratamento do câncer.
4- Você acha que contribui para o
empoderamento feminino na ciência?
Acho que
nunca parei para pensar nisso... Venho de uma família cheia de mulheres fortes,
autônomas e batalhadoras, e este foi sempre meu exemplo, de igualdade de valores
e oportunidades, não importando o gênero. Então, sempre encarei como normal a
questão de ser mulher na carreira de cientista.
Na minha vida
acadêmica e profissional, poucas vezes senti discriminação por ser mulher. E como
isso não fazia parte do meu mundo, me surpreendi bastante quando aconteceu!
Mas com
exceção desses episódios, quase sempre atuei em equipes nas quais as mulheres
representavam a grande maioria e eram respeitadas e até preferidas aos homens,
pelas características ditas “femininas” como capacidade multitarefa, atenção
aos detalhes, destreza manual, organização. Apesar disso, geralmente os líderes
eram homens, mesmo sendo minoria em número.
Assim, ao
contribuir para a formação de novas cientistas, ao ter me tornado líder de
equipe e por trabalhar em equipes lideradas por mulheres, acredito que estou,
mesmo que não intencionalmente, fortalecendo a presença das mulheres em
posições de liderança na Ciência.
5- Você acha que vai deixar alguma
contribuição para a sociedade?
Eu espero que
sim! Acredito que tudo que fiz até hoje em termos profissionais, seja como
cientista, professora, orientadora ou gestora, contribuiu de uma maneira ou de
outra para o avanço dos conhecimentos científicos, para a formação de novos
profissionais, para a estruturação de áreas de pesquisa e tecnologia. Por
coincidência ou não, em cada lugar onde trabalhei, desde a pós-graduação, fui
sendo direcionada para a implantação ou reestruturação de alguma coisa: novos
ensaios e procedimentos de laboratório, novos laboratórios, novas áreas
técnicas, novos produtos e serviços, até um instituto de tecnologia inteiramente
novo. Mesmo que, por um motivo ou por outro, eu não esteja mais nesses lugares,
o trabalho continuou ou serviu de base para o que veio depois. Então, acredito
que, mesmo que minha participação no futuro não seja conhecida ou lembrada,
deixei algumas sementes plantadas.
Além disso, lecionar
e orientar pessoas é gratificante, seja pela contribuição para a formação de
novos profissionais, quanto pelo desafio do aprimoramento constante para
transmitir não apenas conhecimentos, mas o gosto pela busca de conhecimentos e,
principalmente, valores. Alguns desses profissionais que encontrei ao longo do
caminho me deixam orgulhosa até hoje! Esse legado é muito mais importante do que
participar da construção e implantação de estruturas físicas, porque estas
sementes vão frutificar nos que também forem influenciados por eles. É assim
também que crio meus filhos!
6- Qual a relação do seu trabalho com
o tema do blog?
Aqui no Serviço
de Biologia Celular da FUNED, fazemos pesquisas na área de oncologia. Um dos
meus focos é o desenvolvimento e implantação de novos métodos imunológicos para
caracterizar e identificar tumores com maior rapidez e eficiência, que possam
auxiliar no diagnóstico e no direcionamento do tratamento. Para isso,
pesquisamos moléculas que sejam específicas de determinadas células tumorais,
principalmente aquelas que não são fáceis de identificar ou para as quais os
tratamentos atuais não funcionam tão bem. Aí, buscamos desenvolver ou
padronizar testes laboratoriais que utilizam anticorpos para identificar essas
moléculas.
Outra área de
atuação é o estudo de compostos naturais, derivados de plantas, animais e
microrganismos, com atividade contra as células tumorais, que possam futuramente
dar origem a novos medicamentos contra o câncer. Em laboratório, testamos
vários tipos de células tumorais para verificar se os compostos são capazes de
bloquear seu crescimento ou matá-las. Depois escolhemos os mais potentes e
pesquisamos quais são as moléculas que fazem parte desses compostos e como elas
atuam nas células, seu mecanismo de ação.
Então
pessoal, foi isso por hoje, espero que tenham gostado de conhecer um pouco
sobre a Christiane e sobre o seu trabalho.
Ana, Lara e Lu! Foi um prazer dar esta entrevista para o Blog, me fez "metabolizar" muita coisa sobre mim mesma! ;-)
ResponderExcluirEspero que o Blog continue a ampliar seus "pseudópodes" por muitas áreas da ciência e atraia cada vez mais seguidores!
Abraços! Chris Contigli