segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Entrevista com Christiane Contigli

Olá pessoal, hoje trouxemos mais uma entrevistada. Christiane Contigli, 51 anos, formada em Ciências Biológicas com Bacharelado em Genética pela UFMG. Fez Especialização em Pesquisa em Microbiologia médica e depois Mestrado e Doutorado em Bioquímica e Imunologia, sempre na UFMG, mas parte dos estudos de Doutorado foram desenvolvidos também na Università degli Studi di Firenze (Itália). Complementou sua formação acadêmica com o Pós-doutorado em Imunogenética, desenvolvido na UFTM (Uberaba) e na Universitè d’Aix-Marseille III (França).

Fizemos algumas perguntinhas:

1- Qual a sua área de atuação?
Minhas áreas de atuação, hoje em dia, são Imunologia Aplicada, Biologia Celular, Biotecnologia e Ciência dos Alimentos.

2- Porque você escolheu essas áreas?
Quando comecei a fazer o curso de graduação em Ciências Biológicas, meu primeiro interesse foi pela Genética, mas aí descobri a Imunologia e a Biologia Molecular e também me apaixonei por essas áreas. Da Graduação ao Doutorado, fiquei pulando da Imunologia para a Genética Molecular e de volta para a Imunologia, até que no Pós-doutorado trabalhei com Imunogenética, unindo todos esses interesses científicos.
Quando entrei efetivamente para o mercado de trabalho, as oportunidades que surgiram me fizeram migrar da ciência básica para a pesquisa aplicada e o desenvolvimento tecnológico e, paralelamente, para o ensino acadêmico. Então, ao longo das várias experiências profissionais que tive, fui descobrindo meu interesse também pela Biotecnologia e mais recentemente, pela Ciência de Alimentos, áreas nas quais pude aplicar os conhecimentos técnico-científicos previamente adquiridos para projetos que vão da Saúde Pública à Segurança de Alimentos. Agora estou de volta à Biologia Celular e Imunologia, sem deixar de lado a Biotecnologia.

3- Quais experiências você teve nessa área?
Durante minha graduação, fiz Iniciação Científica em Imunologia. Depois migrei para a Genética de microrganismos, sendo que meu TCC de Bacharelado foi sobre clonagem de genes de resistência bacteriana ao mercúrio usando um bacteriófago (vírus de bactérias) como vetor.
Quando me formei, recebi uma bolsa de Especialização em Pesquisa na área de Microbiologia médica e participei de estudos sobre o Helicobacter pylori (bactéria que pode provocar gastrite, úlcera e câncer no estômago).
Durante o Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado, voltei para a Imunologia Celular e Molecular e para a Biologia Molecular. Surgiu então a oportunidade de trabalhar na área de produção, controle da qualidade e desenvolvimento de produtos, em empresas de biotecnologia que fabricavam testes imunológicos e bioquímicos para diagnóstico in vitro.
Depois disso, me tornei pesquisadora da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC, onde busquei utilizar meus conhecimentos técnico-científicos e minha experiência na indústria na implantação de uma nova linha de pesquisa na área de Biotecnologia, voltada para o desenvolvimento e a aplicação de métodos imunológicos rápidos na Segurança de Alimentos, Saúde Pública e Meio Ambiente.
Anos depois, surgiu a proposta de me transferir para o SENAI, que assumiu as atividades tecnológicas que eram desenvolvidas pelo CETEC, e lá atuei, até recentemente, como Diretora do Instituto SENAI de Tecnologia em Alimentos & Bebidas. Nessa função, o lado de pesquisadora que ficou em segundo plano, mas pude desenvolver meu lado de gestora e empreendedora, pois liderei a equipe na reestruturação do antigo setor onde trabalhava para transformá-lo em um instituto de tecnologia.
Além disso, desde o Doutorado, tive várias oportunidades de atuar como Professora em cursos de Graduação e de Pós-graduação e como Orientadora de estudantes da Iniciação Científica ao Mestrado, complementando minha formação e experiência profissional e contribuindo para a formação de novos profissionais nas várias áreas em que atuei.
Recentemente de volta ao serviço público, me transferi para a FUNED, onde hoje faço parte da equipe do Serviço de Biologia Celular da Diretoria de P&D. Aqui, estou retomando minha atuação como Pesquisadora e pretendo contribuir com minha experiência para o desenvolvimento de aplicações biotecnológicas que beneficiem o diagnóstico e o tratamento do câncer.

4- Você acha que contribui para o empoderamento feminino na ciência?
Acho que nunca parei para pensar nisso... Venho de uma família cheia de mulheres fortes, autônomas e batalhadoras, e este foi sempre meu exemplo, de igualdade de valores e oportunidades, não importando o gênero. Então, sempre encarei como normal a questão de ser mulher na carreira de cientista.
Na minha vida acadêmica e profissional, poucas vezes senti discriminação por ser mulher. E como isso não fazia parte do meu mundo, me surpreendi bastante quando aconteceu!
Mas com exceção desses episódios, quase sempre atuei em equipes nas quais as mulheres representavam a grande maioria e eram respeitadas e até preferidas aos homens, pelas características ditas “femininas” como capacidade multitarefa, atenção aos detalhes, destreza manual, organização. Apesar disso, geralmente os líderes eram homens, mesmo sendo minoria em número.
Assim, ao contribuir para a formação de novas cientistas, ao ter me tornado líder de equipe e por trabalhar em equipes lideradas por mulheres, acredito que estou, mesmo que não intencionalmente, fortalecendo a presença das mulheres em posições de liderança na Ciência.

5- Você acha que vai deixar alguma contribuição para a sociedade?
Eu espero que sim! Acredito que tudo que fiz até hoje em termos profissionais, seja como cientista, professora, orientadora ou gestora, contribuiu de uma maneira ou de outra para o avanço dos conhecimentos científicos, para a formação de novos profissionais, para a estruturação de áreas de pesquisa e tecnologia. Por coincidência ou não, em cada lugar onde trabalhei, desde a pós-graduação, fui sendo direcionada para a implantação ou reestruturação de alguma coisa: novos ensaios e procedimentos de laboratório, novos laboratórios, novas áreas técnicas, novos produtos e serviços, até um instituto de tecnologia inteiramente novo. Mesmo que, por um motivo ou por outro, eu não esteja mais nesses lugares, o trabalho continuou ou serviu de base para o que veio depois. Então, acredito que, mesmo que minha participação no futuro não seja conhecida ou lembrada, deixei algumas sementes plantadas.
Além disso, lecionar e orientar pessoas é gratificante, seja pela contribuição para a formação de novos profissionais, quanto pelo desafio do aprimoramento constante para transmitir não apenas conhecimentos, mas o gosto pela busca de conhecimentos e, principalmente, valores. Alguns desses profissionais que encontrei ao longo do caminho me deixam orgulhosa até hoje! Esse legado é muito mais importante do que participar da construção e implantação de estruturas físicas, porque estas sementes vão frutificar nos que também forem influenciados por eles. É assim também que crio meus filhos! 

6- Qual a relação do seu trabalho com o tema do blog?
Aqui no Serviço de Biologia Celular da FUNED, fazemos pesquisas na área de oncologia. Um dos meus focos é o desenvolvimento e implantação de novos métodos imunológicos para caracterizar e identificar tumores com maior rapidez e eficiência, que possam auxiliar no diagnóstico e no direcionamento do tratamento. Para isso, pesquisamos moléculas que sejam específicas de determinadas células tumorais, principalmente aquelas que não são fáceis de identificar ou para as quais os tratamentos atuais não funcionam tão bem. Aí, buscamos desenvolver ou padronizar testes laboratoriais que utilizam anticorpos para identificar essas moléculas.
Outra área de atuação é o estudo de compostos naturais, derivados de plantas, animais e microrganismos, com atividade contra as células tumorais, que possam futuramente dar origem a novos medicamentos contra o câncer. Em laboratório, testamos vários tipos de células tumorais para verificar se os compostos são capazes de bloquear seu crescimento ou matá-las. Depois escolhemos os mais potentes e pesquisamos quais são as moléculas que fazem parte desses compostos e como elas atuam nas células, seu mecanismo de ação.


Então pessoal, foi isso por hoje, espero que tenham gostado de conhecer um pouco sobre a Christiane e sobre o seu trabalho.

Um comentário:

  1. Ana, Lara e Lu! Foi um prazer dar esta entrevista para o Blog, me fez "metabolizar" muita coisa sobre mim mesma! ;-)
    Espero que o Blog continue a ampliar seus "pseudópodes" por muitas áreas da ciência e atraia cada vez mais seguidores!
    Abraços! Chris Contigli

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